15 de abril de 2010

As mulheres e o futebol

Falar de mulher e futebol ao mesmo tempo não é fácil, principalmente pelo enorme risco que se corre de ser chamado de machista. Na verdade, se você não tiver o discurso da tv - "mulheres no estádio são a coisa mais fantástica do mundo" - você é machista, pronto, simples assim. De qualquer forma, acho que algumas observações podem ser feitas, e eu sempre procuro reparar bastante em mulheres que falam e falam e falam sobre futebol. Notei, ao longo do tempo, que a maioria delas possui algo em comum, o que sempre me chamou e me chama a atenção.
Quando eu era criança, lá nos anos 90, e ia ao estádio, a ampla maioria - esmagadora mesmo - era de homens, indiscutivelmente. Quando aparecia uma menina, o que se ouvia era uma quantidade absurda de referências pouco educadas tanto para ela  (de "gostosa" pra frente, se fosse bonita, de "gorda" pra frente se não fosse) quanto para seu acompanhante ("sócio" e "corno" eram os nomes campeõpes de audiência). Isso devia acontecer, primeiro, pela própria "cultura" brasileira de que futebol e estádios eram coisas de homem e, em segundo, pelo contexto de violência que se via nos estádios até meados daquela década (não que hoje as coisas estejam lá muito melhores, mas acredito realmente que evoluíram UM POUCO).
Da metade da década pra frente, mas principalmente mais para o final dos anos 90 e começo dos 2000, esse panorama começou a mudar, e mudou muito rápido, acredito que motivado por uma campanha muito forte da televisão.
Bom, agora minhas observações: quando uma mulher gosta de futebol, quando ela torce, ela TORCE mesmo, com sérias propensões ao fanatismo - mesmo que tente disfarçar. Isso é interessante e eu realmente não sei explicar o motivo. Raramente você vê uma que vai ao jogo só por ir, só pra acompanhar pai, irmão, namorado. Elas vão e quase morrem no estádio, o que é bem divertido - e às vezes reponsável por uma gritaria ensurdecedora.
Isso causa um efeito que eu acho bem chato: a necessidade quase patológica que a maioria delas tem de provar insistentemente que entende de futebol, do jogo, da dinâmica. O básico é afirmar que sabe o que é impedimento - o que qualquer retardado que vá meia dúzia de vezes ao estádio entende, pelamordedeus. Mas, além disso, a afirmação através de análises futebolístiscas - não sei porque - feitas como se fossem comentaristas de televisão, como se falassem com a câmera - difícil de explicar, mas usando expressões tipo "o técnico devia ter posto fulano na posição tal e deixado o cara fazer o que sabe".
Interessante também, e acho que por essa paixão, é a quantidade de acessórios do time que elas conseguem ter. Ainda mais nos últimos anos, com o grande investimento dos clubes em roupas e acessórios femininos.
Por último, acho que ainda há uma diferença fundamental entre homens e mulheres quando se trata de futebol: a maioria dos homens olha para o mundo futebolístico como algo amplo e, muitas vezes, a ser admirado. Como assim? É só notar que os homens acompanham com muita frequência diferentes campeonatos, nacionais ou estrangeiros, diferentes jogadores e conversam demasiadamente sobre o chamado Mundo da Bola, param pra ver todo tipo de documentários, especiais, filmes e reportagens sobre futebol. E não precisa nem dizer o quanto contam os meses, semanas e dias para a Copa. Mais do que torcer pela seleção - e é o único momento de torcida realmente, já que nos outros campeonatos costumamos torcer depois das quartas de final e ainda debochar se der algo inesperado - a Copa representa o ápice dos bons jogos, os melhores jogadores reunidos, enfim, futebolisticamente falando, tudo de bom.
Curiosamente, boa parte das mulheres gosta da Copa pelo evento em si - reuniões, churrascos, folga no trabalho/estágio/faculdade, não necessariamente pelos jogos. Já vi muitas comentando que não estão nem aí para a seleção e que a parte chata é que os jogos dos times são paralisados. 
Acho mei difícil entender isso e, em alguns casos, isso até me irrita. O futebol é bem mais do que o seu time, seu estádio. Enfim, continuarei observando, com olhos machistas ou não.

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