30 de março de 2010

Canto para minha morte

Eu sei que determinada rua que eu já passei não tornará a ouvir o som dos meus passos. Tem uma revista que eu guardo há muitos anos e que nunca mais eu vou abrir. Cada vez que eu me despeço de uma pessoa pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez. A morte, surda, caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar.

Com que rosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque? Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada, e que está em algum lugar me esperando, embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim, pois em qualquer lugar esperas só por mim. E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar. Vem, mas demore a chegar, eu te detesto e amo morte, morte, morte que talvez, seja o segredo desta vida. Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida.

Qual será a forma da minha morte? Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida. Existem tantas: um acidente de carro, O coração que se recusa abater no próximo minuto, a anestesia mal aplicada, a vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida, o câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe, um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...

Ó morte, tu que és tão forte, que matas o gato, o rato e o homem, vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar! Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva, e que a erva alimente outro homem como eu, porque eu continuarei neste homem, nos meus filhos, na palavra rude que eu disse para alguém que não gostava e até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...

Canção de Raul Seixas, cujo nome é o título deste post. Genial! Gosto dela desde sempre.


Notícia boa: minha ex-aluna, também genial, chamada Bárbara - http://twitter.com/Babith - fará um layout novo e realmente descente para este blog, o que me deixa muito feliz!

29 de março de 2010

Cachorros ou crianças?

É muito comum as pessoas se apegarem aos seus bichos de estimação, por diversos motivos que nem cabe listar aqui. Um cachorro é bacana, é um animal afetivo mesmo, brinca, pula, diverte e, dizem, até compreende situações de tristeza ou angústia.
Também é comum que quem tem um animal desses compre algumas coisas pro bichano: casinha, ossos, algumas roupas (normalmente bem ridículas), que doe um cobertor para que não morra de frio, enfim, o bicho acaba mesmo ganhando muito espaço dentro de casa - quando notam, já está dormindo na cama e fazendo xixi onde não deve.
Tudo isso é normal, mas, e quando um certo limite é ultrapassado?
E digo limite mesmo. Perceba! Você deve ter um tio, um primo, um vizinho, talvez até sua irmã mais nova ou sua mãe tenham um problema sério: tratam cachorros como se fossem gente. Pior que isso, como se fossem crianças que precisam de milhares de mimos.
Os sintomas dessa.....doença(?)....começam quando o sujeito passa a falar com o bicho com voz fina e infantil. Se você conseguir flagrar isso no começo, aja rápido, suma com o cachorro ou com o dono!
Depois vem o segundo estágio, já irreversível: "vem com a mamãe!" ou "vem com o papai!". Aqui, chegou-se quase ao limite. Quase, porque tem situação pior: o sujeito para o carro na frente de casa, o cachorro sai latindo que nem um retardado (incomodando a vizinhança toda, diga-se) e daí você escuta: "cadêêêêê meu filhããão?" Obviamente o bicho, pelo afeto com seu dono, pula em cima dele, enche o cara de lambidas, mas isso NÃO quer dizer que ele está correspondendo como filho, aliás, ele nem sabe o que é filho, oras!
Bom, o terceiro grau de problemas mentais relacionados aos animais é notado quando o dono, ou dona, volta do mercado com uma sacola exclusiva do vira lata, normalmente com coisas tipo bolacha Bono sabor doce de leite, leite condensado, picanha, molho de tomate importado, enfim, qualquer coisa que deva ser comsumida por pessoas, mas que o dono jura por Deus e de pés juntos que o animalzinho dele adora e só come daquilo, porque foi mal acostumado e não se adapata mais à outros alimentos.
Isso que eu não preciso nem falar dos pet shops. Pelamordedeus! 4.237.981 coisas inúteis e caras que milhões de pessoas sem discernimento compram para seus animais.
E, para finalizar a lista de absurdos que alguns seres humanos mongolóides fazem por aí, na frente dos demais seres civilizados, a pior e mais nojenta de todas as coisas: alguns sujeitos tem a capacidade (que chamam de amor) de lamber o cachorro. Lamber mesmo, como se tivesse dando um selinho no animal, que muitas vezes lambe o dono como retribuição do carinho. Essa cena sempre dá vontade de vomitar, mesmo. Total falta de.....de.....sei lá, não consigo nomear.

O que causa estranheza é notar que muitas dessas pessoas tratam crianças de verdade como se fossem seres ruins, dizem que crianças são cruéis e vários outros absurdos; eles não tem paciência com os filhos e que não conseguem manifestar carinho se não for pelo seu animal de estimação. Enfim, deprimente.

21 de março de 2010

O happy hour e o sensacionalismo

Quando qualquer jornalista quer uma notícia de quinta categoria, já sabe o que fazer: vai a qualquer lugar, depois que já anoiteceu, que tenha um jogador de futebol e dá um jeito de fotografar o sujeito com uma lata de cerveja na mão. Pronto, feito o escândalo. No dia seguinte, vemos nos jornais as manchetes já batidas: "Fulano flagrado na noitada", "Beltrano bebendo no meio da semana", e por aí vai.
Bom, já que jogadores vivem discursando que são trabalhadores como outros quaisquer, que sejam tratados (e ajam) como tais. Então vamos lá. Passe em qualquer bar, restaurante ou lugar que ofereça um happy hour, entre 18:30h e 22h, qualquer noite da semana. Provavelmente o lugar estará cheio e isso não quer dizer que todos que estão lá estão na farra, enchendo a cara, que esqueceram o trabalho e a família. Longe disso, todos só estão relaxando após um (ou mais) dias de trabalho. Estão lá aproveitando algumas horas pra distrair, falar de aleatoriedades, dar risadas, enfim, sair um pouco da rotina. Sinceramente, não vejo nada de errado nisso.
Fazer um happy hour não torna ninguém irresponsável, alcóolatra, enfim, não denigre, e nem pode denegrir a imagem de ninguém. Daí vem o argumento: mas eles são atletas, devem estar 100% fisicamente e 100% concentrados para os jogos. Isso é óbvio, mas não quer dizer que não possam relaxar com uma lata de cerveja e uma porção de fritas, oras. Ninguém vai ficar mais gordo ou mais lento porque foi conversar com os amigos em um fim de tarde.
Claro, se os momentos de descontração estragam o bom rendimento no trabalho, tem que cortar. Nada de virar todas as noites na farra, dormir muito tarde e acordar muito cedo, não há ser humano que consiga trabalhar direito em um ritmo assim. Mas quando a coisa é normal, saudável, não tem porquê fazer escândalo.
Outra coisa: fotos são, muitas vezes, pouco explicativas. Boa parte das que são publicadas e que retratam os jogadores com cerveja não mostram nenhum deles caíndo de bêbado e nem dão uma noção exata de que horas foi tirada. Pode ter sido batida às 20h e o repórter dizer que foi às 3h da madrugada. E daí, quem prova o contrário?
Enfim, qualquer trabalhador que se perca nos hsppy hours ou nas farras vai ter queda de rendimento e vai ter a atenção chamada, sem dúvida. Agora, transformar uma descontração com amigos em notícias de mau comportamento e sensacionalismo barato é fazer mau uso da palavra e ter má fé na profissão, coisa que, infelizmente, a imprensa está cheia.

11 de março de 2010

Valsa com Bashir

Valsa com Bashir (Waltz with Bashir), de Ariel Folman, 2008. Vencedor do Globo de Ouro e do Prêmio da National Society of Film Critics, além de ter sido indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.


Quando ouvi falar desse filme, fiquei curioso. Gosto bastante de filmes de guerra, de preferência os que tratam das questões de sobrevivência no front mesmo, estratégia, missões e conflitos psicológicos. Estava esperando mais um filme com cenas de batalhas, gente mutilada, estropiada, implorando pela vida e um determinado lado apontado como vencedor ou mocinho, mesmo que disfarçadamente. Eis que, para minha surpresa, o filme não é bem sobre isso. Ele aborda tudo o que foi dito acima, mas antes de tudo, ele trata da questão da memória.
O personagem principal é um ex-combatente da Guerra do Líbano, que ocorreu no início dos anos 80. Durante uma conversa em um bar, ele percebe que não se recorda de um determinado massacre que sabe que esteve., a não ser por alguns flashes. Talvez a falta de memória tenha sido uma fuga, uma autopreservação, enfim, nem ele entende direito.
Ele sai, então, em busca de outros ex-combatentes para conversar e tentar esclarecer esses flashes. Mais do que isso, é uma busca pela recuperação de uma parte perdida da vida dele, mesmo que ele não goste do fato de ter estado naquele conflito. Enquanto as conversas se desenrolam, o filme vai ilustrando todo o horror da guerra.
Acho que o legal do filme é que o personagem não quer esquecer, ao contrário, ele faz questão de lembrar, reconstruir, mesmo tendo uma boa noção do que ele fez. O filme não é nada leve, longe disso, nenhuma cena é romanceada ou enfeitada. Tudo é mostrado, bem mostrado.
Enquanto assistia, me perguntava o porquê dele ter sido feito em forma de animação. Segundo o próprio diretor, "foi natural fazê-lo assim", e esse formatou serviu para "chamar a atenção do público mais jovem para essa Guerra". Acho que essas justificativas ficam vazias e a questão da animação é respondida na cena final, na última mesmo, segundos antes do filme acabar.
Claro que não vou contar, mas vale a pena esperar. Outro ponto, além da animação, que acho bem legal é o idioma hebraico. Sempre gostei de filmes que não são falados em inglês, não sei bem o motivo (por exemplo, o aramaico do Paixão de Cristo, muito bom!). Tirando uma certa implicância com o francês, acho legal filmes em idiomas que não estou acostumado a ouvir.
Filme recomendado, sem dúvida, mas com um aviso: para assisti-lo, deve-se estar no clima, no dia certo. Não é um filme para um belo sábado de sol. Só coloque o dvd pra funcionar se a cabeça estiver pronta, senão é pura perda de tempo.

4 de março de 2010

A rivalidade e o respeito


Domingo tem mais um Atletiba. Normalmente um jogo bem interessante, corrido, marcado e "cheio de fortes emoções", para usar uma expressão pra lá de batida na crônica esportiva. Isso sem falar na entrada em campo e na agitação nas arquibancadas.
Ok, mas a ideia aqui não é falar sobre o jogo, ou sua história, em si, e sim sobre a questão do respeito que normalmente falta dentro do estádio e em alguns lugares públicos. Particularmente, já acho lamentável toda e qualquer cena de violência entre torcidas que ocorra dentro do estádio, nos arredores deste, em terminais, nos bairros, enfim, onde quer que seja. Mas o que me indigna um pouco mais é quando a falta de noção e o fanatismo de alguns entra de cabeça no mundo virtual.
Como assim? Simples. Eu, Henrique, torço para o Coritiba. Independente disso, tenho vários amigos e conhecidos que torcem para o Atlético e isso não muda nem um pouco meu juízo ou minha amizade com eles. Em respeito a esses amigos, jamais eu me refiro de modo agressivo à torcida do Atlético ou ao seu estádio. Acho isso realmente desnecessário e imbecil.
Se eu venho aqui, ou vou ao Orkut, ou ao Twitter e me faço referências como "os porcos", "a porcarada", "aquela cambada de filhos da puta", "os poodles" ou qualquer outra coisa do nível, eu vejo sim como um desrespeito aos meus amigos. Ainda há generalizações como "torcida de maloqueiros", "bando de vândalos", etc, também lamentáveis. Da mesma forma, não sou a favor de me referir de maneira pejorativa ao estádio do Atlético, principalmente porque vários dos meus amigos se referem à Baixada como "nossa casa", ou "nosso estádio". Caramba, se o cara chama de "nosso", ou "meu", não sou eu que vou chamar de chiqueiro, puteiro ou qualquer outra coisa - até porque meu amigo não é porco ou não mora em uma zona.
Pior do que isso, são as desculpas, ou senso comum: "ah, eu chamo a torcida deles de filho da puta, mas não incluo meus amigos". Isso é bobagem. Quando se escreve alguma coisa e quer apontar uma excessão, deve-se nomeá-la. Se um amigo meu se refere à torcida do Coritiba com qualquer termo dos já citados, eu me incluo, óbvio, sou parte da torcida, então me xingou também. E se o sujeito fizer uma lista de excessões, é bem bom que me inclua.
Normalmente as pessoas falam ou escrevem sem pensar mesmo, ou porque não param para refletir sobre as próprias ideias, ou porque tem muitos amigos que torcem para o mesmo time e acham engraçado, ou porque o fanatismo as torna cegas e imbecis mesmo (nesse ponto sou bem radical - nenhum tipo de fanatismo - futebolístico, político, religioso, etc - faz bem. Normalmente chama a intolerância e fanático não consegue ler a realidade além do que acredita ser verdade). Já é um absurdo que duas torcidas que proporcinam um baita espetáculo visual percam tempo compondo músicas ofensivas umas para as outras, mas isso, infelizmente, não tem mais como evitar. Mas quando o desrespeito vira ponto comum fora do estádio, em questões bobas, do cotidiano, alguma coisa deve ser repensada.

2 de março de 2010

Quem vai para a academia?

É interessante ver nas novelas e programas televisivos, em geral, o visual do público que frequenta academias: todo mundo jovem, bonito, de bom humor e, principalmente, com corpos perfeitos. Acho que isso só não é mostrado em filmes de comédias, que colocam todos ou excessivamente gordos ou retardados mentais que só pensam levantar toneladas, ou em documentários sobre a obesidade.
Na verdade, boa parte das pessoas não pensa sobre o assunto e faz uma cara de decepção quando vai conhecer o ambiente para se exercitar e percebem que nem só de corpos esculturais vivem as academias.
Mas isso me parece óbvio: uma pessoa vai para a academia para emagrecer, logo ela está acima do peso (em maior ou menor proporção) e não está saradona. Outravai para a academia porque precisa fazer exercícios por causa da saúde, logo, também não está 100%. Vários idosos também frequentam academias por diversos motivos e obviamente não tem o visual idealizados pelos jovens. Outro público considerável é o de pessoas de meia idade, pra lá dos 40 anos. Estes, por mais trabalhado que seja seu corpo, também não oferecem aquele visual das novelas. Além de todos esses, há os adolescentes magrelos que vão tentar definir o corpo e ganhar alguma massa muscular, e não são nada atraentes. Por último, tem os que são torturados diariamente pelos personal trainers (esses masoquistas são de todas as idades e visuais).
Claro, tem aqueles que já praticam exercício há um bom tempo e tem mesmo corpos fortes e definidos, sendo mais ou menos jovens, homens e mulheres, mas nem de longe são maioria, apesar de serem responsáveis pelo esteriótipo de quem frequenta academia.
Qualquer hora escrevo sobre o comportamento dentro desse ambiente.