25 de outubro de 2010

Outro começo de história...

Hoje retuitei (via www.twitter.com/baszczn) um link muito legal - http://americanbookreview.org/100BestLines.asp - intitulado "As cem melhores primeiras linhas de romances". Na hora me veio na cabeça um outro início de livro que gosto muito, e que não consta na lista (talvez por não ser um romance né, Henrique!). De qualquer forma, eis meu início de livro favorito:

Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Franz Kafka, Metamorfose, 1912.

17 de outubro de 2010

Bukowski

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"A primeira coisa que me lembro é de estar debaixo de alguma coisa. Era uma mesa, eu via uma das pernas de madeira, via as pernas das pessoas e um tanto da toalha que pendia no ar. Era escuro lá embaixo, eu gostava de ficar por ali. Isto deve ter sido na Alemanha. Eu devia ter um ou dois anos de idade. Era 1922.  Eu me sentia bem debaixo da mesa. Ninguém parecia saber onde eu estava. A luz do sol escorria sobre o tapete, sobre as pernas das pessoas. A luz do sol me agradava. As pernas das pessoas eram desinteressantes, diferentemente da toalha que pendia da mesa, diferentemente da perna da mesa, da luz do sol."

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Eis o primeiro parágrafo de Misto Quente, um dos melhores livros de Charles Bukowski, embora essa pequena citação não demonstre absolutamente nada sobre a história do livro. Ou talvez demonstre. O isolamento do menino Henry Chinaski nessa primeira cena permanece, e ganha novas caras ao longo do livro. Sua personalidade  varia entre o trágico, o escroto, o cômico, o anti-social e várias outras formas, sem ser um heroi, e sem ser romântico. Seco, sarcástico e real - em excesso até - por isso me chamou a atenção.
Leitura recomendada.

10 de outubro de 2010

Citação...

"Exu continuou assistindo, e como Oxalá nada dissesse, assim permaneceu.
'Ora, vejam! Então é assim que se faz uma cabeça!', pensou, ao ver o deus concluir uma delas.
'Ora, vejam! Então é assim que se fez um pescoço!', pensou, ao ver um deles sendo modelado.
'Ora, vejam! Então é assim que se faz um seio!', pensou, ao ver as mãos do grande oleiro darem forma aos seios das mulheres. Para sua surpresa, no entanto, viu o deus dar um segundo seio à mesma mulher.
'Muito bem feito!', pensou ele, pois ali estava algo que bem merecia uma repetição.
O que verdadeiramente o encantava, porém, era o requinte dos detalhes. No caso dos seios, o detalhe dizia respeito aos mamilos, que podiam ter formas tão deliciosamente várias quanto as mamas.
'Realmente, há aqui uma possibilidade infinita de combinações!', disse gozosamente para si mesmo.
Exu continuou a ver, passo a passo, a confecção dos seres humanos - tanto homens quanto mulheres - e gostou tanto do que viu que ficou para observar a confecção de uma nova fornada.
Na verdade, ficou observando tudo isto por dezesseis anos inteiros."

Retirado de: As melhores histórias da mitologia africana, de A.S Franchini e Carmen Seganfredo. Editora Artes e Ofícios, Porto Alegre, 2009.

Recomendado!