27 de fevereiro de 2010

A hipocrisia popular

Qualquer pessoa que já assistiu uma eliminação no Big Brother e prestou atenção no discurso feito por Pedro Bial pode pensar o seguinte: de que maneira o BBB reflete o comportamente de uma parte dos brasileiros? Na verdade, de várias, mas uma me chama a atenção em especial: a cobrança por uma chamada boa conduta dos sujeitos que estão dentro da casa.
Francamente, nada mais hipócrita do que isso, mesmo. Nada contra assistir o programa, falar sobre ele e até mandar um ou outro voto. O que é bizarro é que tem gente que fica indignado porque "o fulano lá dentro foi fofoqueiro", ou desonesto, ou preconceituoso, ou não ajudou na arrumação, ou estava ficando com um(a) e pegou outro(a), enfim, vários juízos de valor que, de maneira geral, são bem furados.
Dar esse poder de decisão e interferência ao telespectador, gera esse julgamento de boa conduta. Todo mundo que vota por qualquer um desses motivos listados (e mais vários outros poderiam ser ditos) pressupõe que não faz nada dessas coisas. Não que as pessoas sejam um poço de ruindade, longe disso, mas ao votar e ao discutir as atitudes alheias, você julga o outro como se você fosse perfeito, com um baita moral e uma reputação indiscutível e um exemplo de honestidade.
Qualquer pessoa normal comete pequenas desonestidades, tem alguns conceitos pré-estabelecidos, já fez uma fofoca e, principalmente, já fez alguma asneira na vida. Mas como você está na tv, não pode, tem que ser exemplar.
Logo, quem mostra menos seus defeitos, ganha o público e leva fácil fácil 1 milhão e 500 mil reais, livres de impostos. Isso sim é ser bem pago para jogar.

22 de fevereiro de 2010

Namoros, paqueras, flertes e afins dos (pré)adolescentes por volta de 2010

Como professor, é comum que eu observe, minimamente, o comportamento dos meu alunos e ex-alunos no dia a dia, ou no pátio da escola, ou via Twitter e Orkut. Também é relativamente comum que eu pare e converse com eles e com elas sobre coisas do cotidiano.
Algo que me chama a atenção desde que comecei a dar aula é o modo como eles interagem com quem estão afim, ou gostam à distância, ou qualquer coisa parecida. Na verdade, acho que não podia esperar nada diferente mesmo: mensagens no celular, indiretas via Orkut - comunidades e frases na descrição - e no Twitter. Isso que não tenho absolutamente nenhum acesso ao msn, mas imagino que sejam ainda piores, já que pode-se trocar a cada minuto o próprio nome.
Apesar de achar bem interessante o tamanho do valor que eles dão ao mundo virtual ao invés do mundo real, porque adoram passar dias inteiros na internet e às vezes parecem preferir o contato virtual ao pessoal, volta e meia me lembro da minha adolescência, e comento com meus colegas como a vida das pessoas nascidas lá pelos anos 70 e 80 (ou mais), era bem mais complicada nessas horas.
Pense: hoje qualquer um envia e recebe torpedos no próprio celular, recebe depoimentos ou mensagens no msn e consegue esconder de todo mundo, lê e apaga e pronto. Mais interessante do que isso, não tem aquela intromissão do pai ciumento.
Quantas vezes eu ou meus amigos não ensaiamos para ligar para a casa da menina que gostávamos. Demorava um bom tempo só para criarmos coragem. Ok, coragem criada, ligação feita, o pai dela atendia. A voz do sujeito já parecia com a de um demônio que ia te jogar nas trevas. Diga-se, era bem comum o coitado do pai levar uma desligada na cara - e do outro lado da linha uma pobre criatura de 12 ou 13 anos tremendo. Quando conseguia falar, tentava disfarçar o nervosismo, não gaguejar. Lá por 1997 celular não era para adolescentes. Também podia ser um maldito irmão mais velho ciumento que podia te encontrar na escola e te olhar como se fosse te trucidar.
Orkut e Twitter não existiam e pouquíssimos amigos tinham e-mail, e menor ainda era o número dos que tinham icq (nem msn!).
Às vezes as meninas escreviam cartas, ou bilhetes que eram entregues entre as aulas, todas bem caprichadas e com uma letra toooda desenhada. Super emocionante receber uma delas!
Enfim, novos tempos, novas relações. Mas que a atualidade me parece mais fácil, parece.

21 de fevereiro de 2010

Norma padrão x "internetês"

Lá vou eu dar opinião onde não entendo direito, mas faz parte.
Eis uma questão que vem sendo debatida há um tempo, e cada vez mais debatida: as mudanças na língua portuguesa em virtude das novas formas de comunicação, especificamente a internet.
Com o boom dos sites de relacionamento e as ferramentas de conversas instantâneas nos últimos dez anos, quase que naturalmente a forma como se escreve o português foi sendo alterada. Normalmente as palavras são abreviadas - pq, tb - ou escritas como se fala - naum - e, em outros casos, as distinções da norma padrão foram praticamente excluídas - o "mas "sumiu e o "mais" é usado pra tudo.
Um ex-professor meu, linguista e historiador, adorava debater o assunto, e dizia que achava o máximo essa mudança. Gostava porque vem dos adolescentes e porque, segundo ele, era algo inevitável, que chegará necessariamente aos textos mais formais - teses, dissertações, leis, etc - demore mais ou menos. Francamente, não sei se chegará nesse ponto.
De qualquer forma, sou um cara chato que implica com erros de português. Sei lá o motivo, mas dói no ouvido e dói na vista quando leio. Óbvio, todo mundo erra, livros das grandes editoras tem erros, faz parte. Mas aquele erro que é gerado pela mistura de línguagem padrão e linguagem de internet não me desce.
Não sou linguista, mas ainda acho que cada linguagem no seu respectivo domínio. Inevitavelmente elas vão se misturar, espero que dê bastante tempo para adaptação.

18 de fevereiro de 2010

Raul Rock Seixas

Particularmente, acho Raul o melhor artista brasileiro. Ele tinha um conjunto ímpar de pensamentos e ações, hiperinfluenciado pelo rock americano, desde os princípios do ritmo, antes do Elvis, quando o som ainda era um country cantado por músicos caipiras de calças de couro, botas e sotaque estranho.
Legal mesmo foi ele ter misturado esse rock (assim como os sons do Elvis, dos Beatles e diversos artistas pouco conhecidos por aqui) com a música brasileira, em especial da nordestina.
Acho o cara genial justamente pela quantidade e qualidade de músicas/sons diferentes que compôs e divulgou. Algumas parecem baião, outras forró, usou um pouco do samba e muita guitarra. Bons cds mostram suas interpretações de clássicos do rock (Vivo, Raul Rock Seixas, Os 24 maiores sucessos da era do rock, 30 anos de rock) e outros vários títulos retratam todas as misturas já citadas (Novo Aeon, Gita, Há dez mil anos atrás, Ouro de tolo, Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!, entre outros).
Mas o que vale mesmo a pena quando se fala de Raul é ouvir alguma coisa além das clássicas, batidas e insistentemente repetidas músicas que SEMPRE tocam em filmes, novelas, documentários e qualquer programa de tv aberta ou fechada - Metamorfose Ambulante, Gita, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, Maluco Beleza, Sociedade Alternativa e outras. Não que essas sejam ruins, longe disso. Mas tudo que ele fez vai muito mais longe e é bem diferente dessas aí. Se fosse pra fazer uma lista, eu colocaria:

SOS
Loteria da Babilônia
As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor
Capim guiné
As minas do rei Salomão
Eu também vou reclamar
Movido a Álcool
Canto para minha morte
Moleque maravilhoso
Quando acabar o maluco sou eu
Dentadura postiça
Se o rádio não toca
Eu sou egoísta
Judas
O segredo do universo
Não pare na pista

Destaque também para os cds ao vivo. Normalmente tem uma faixa (ou mesmo no fim de uma música ou início de outra) na qual Raul fala com o público, e tem grande chance dessa faixa ser hilária, como no cd Se a Rádio Não Toca. Além disso, as falas sobre o que ele idealizava como a sociedade alternativa, que não tinha nada a ver com alienígenas ou com um mundo hippie isolado num fim de mundo.
Enfim, um artista para ser conhecido e um som para ser (muito) ouvido.

Obs 1: desconsidero a grande maioria das músicas que ele fez em parceira com Marcelo Nova. Apesar de bem humoradas, me parecem bem diferentes das grandes obras dos anos 70 e comecinho dos 80.
Obs 2: a foto escolhida é pra ser diferente das imagens que normalmente se tem dele e a ideia era que não se reconhecesse à primeira vista. Se o motivo do post era falar um pouco das músicas pouco conhecidas dele, porque não colocar uma foto pouco comum?

16 de fevereiro de 2010

Sherlock Holmes, volume 1 - Um estudo em vermelho


Sherlock Holmes em: um estudo em vermelho - escrito por Sir Arthur Conan Doyle em algum ponto do século XIX. Existem diversas edições, mas acredito que a mais fácil de encontrar é da LPM, de 2008.

Para os que gostam de suspense policial, qualquer livro do Sherlock Holmes é obrigatório. Uma escrita fácil e muito detalhada, sem ser cansativa. A narrativa do Sir Arthur Conan Doyle é dinâmica, direta e muito eficiente. Mas que este livro tem de especial?

Em uma época na qual Holmes está novamente em evidência, graças à adaptação Guy Ritchie estrelada por Robert Downey Jr e Jude Law, vale muito à pena conhecer o personagem original. O destaque dessa obra é apresentar os personagens e suas características, assim como o início da relação entre Holmes e Watson. Interessante também que a narração de tudo sempre é do médico e ajudante do detetive.

Watson se apresenta como doutor em Medicina pela Universidade de Londres e ex-participante da guerra no Afeganistão, a qual foi responsável por destruir sua saúde de vários modos possíveis. Quando voltou para a Inglaterra estava desabrigado e precisava de um lugar para morar e um amigo (e seu ex-auxiliar de enfermagem) o apresenta a Holmes, que passava pelo mesmo problema. Eis que os dois se gostam e acabam em Backer Street, 221B.

A imagem de Sherlock Holmes é construída de maneira interessante e curiosa por Watson, que o observa muito nos primeiros contatos e chega a fazer uma lista com as características do companheiro: bem mais de 1,80, extremamente magro, nariz fino, olhos penetrantes e queixo quadrado, com as mãos sempre manchadas de tinta, observador nato de todos os detalhes possíveis. Alguns dias acorda antes das 10h e saí de casa, ou passa o dia todo trancado em seu laboratório químico na maior agitação. Em outras ocasiões, passa dias largado no sofá sem dizer nada, com ar depressivo. Não sabe absolutamente nada sobre literatura, filosofia, astronomia e mal sabe alguma coisa sobre política. Entende de botânica alucinógena e alguma coisa de geologia, conhece as leis inglesas muito bem, tem grandes conhecimentos em química, anatomia e literatura sensacionalista, além de fumar, tocar violino muito bem e ser ótimo praticante de bastão, box e espada. Junto com tudo isso, sua cordialidade. Esse é o Sherlock Holmes original.

A história do livro é simples: um assassinato que a polícia não consegue desvendar, Holmes e Watson rastreiam pistas (ou detalhes, minucias) deixadas pelo assassino até fecharem o caso. Dois pontos merecem destaque na obra: 1) Holmes sempre sabe o que aconteceu só de olhar, coisa que nem Watson, nem o leitor conseguem imaginar. Ele mostra o que sabe aos poucos e você (assim como o médico-ajudante) é levado pela curiosidade a segui-lo até que sejam juntados todos os fragmentos da ação criminosa. Nessas horas, ser curioso é um baita problema: vem a vontade de passar rápido lá pro fim do livro, na explicação final e pronto. Mas as coisas não são tão fáceis, sir Arthur Cona Doyle não permite. Ele amarra a trama de uma maneira que você não consegue sair; 2) Dentro do livro há quase outro livro. Abre-se uma lacuna explicativa muito detalhada que mostra toda uma história aparentemente desligada da história principal. Quando você já está perdido e se perguntando se o autor estava bêbado, tudo começa a fazer todo o sentido do mundo. Quando vê, tudo está interligado, o crime resolvido e o livro acabado, muito bem fechado e explicado, sem dúvidas e sem nada mágico, tudo feito pela ciência e pela observação.

Um Estudo em Vermelho é o ponto de partida para todas as histórias de Holmes e Watson. Se não gostar do que leu aqui, nem pegue o resto. Em compensação, se gostar, vai ter um acervo literário extenso e muito divertido por um bom tempo.

Nota mental para postagens futuras: a adaptação de Guy Ritchie (muito boa, diga-se!) e a influência que Holmes teve na construção do personagem House.

15 de fevereiro de 2010

Quando o autor não sabe encerrar um livro

O Historiador, de Elisabeth Kostova, publicado em 2005 (nos EUA) e chegou ao Brasil em 2009.

Quando um escritor se propõe a contar uma história cujo tema já foi insistentemente trabalhado, deve fazê-lo com muito cuidado e, principalmente, muita criatividade. Cuidado para não plagiar e para não fazer algo óbvio em vez de novo. Criatividade para que sua história se destaque e forneça aos leitores um novo universo sobre o tema.

No caso da senhorita Kostova, a coisa caminhou bem até certo ponto. Ela se propôs a escrever uma nova história sobre o Drácula, personagem já muitíssimo usado na literatura e no cinema, principalmente a partir da obra de Bram Stocker (genial, diga-se!).

Ao longo das quase 900 páginas, ela envolve o leitor em vários suspenses e mistérios muito bem contados, que insitam muito a curiosidade sobre onde o livro vai parar. Entretanto, quanto mais o livro caminha, mais forte fica a sensação de que as páginas não serão suficientes para dar um bom desfecho. Fica a impressão de quem o livro acabou por acabar, daquela maneira mesmo, assim, porque devia ser assim e ponto final. As últimas páginas são terrivelmente previsíveis, como se qualquer pessoa pudesse escrever aquilo sem trabalho algum.

Outros problemas, mais sérios ainda: durante a história foram feitas várias abordagens sobre a obra de Bram Stocker (os personagens se referem ao livro, sempre dizendo que aquilo não passa de mitologia e crendice). Sem problemas citar obras que também tratam do tema, mas cuidado pra não falar bobagens. No caso da senhorita Kostova, faltou esse cuidado.

Em primeiro lugar, porque ela não criou nada de novo em relação ao senhor Stocker, pegou o que ele já havia pensado e escrito sobre o Drácula e mal reformulou. O maior vampiro do mundo continuava sendo um conde da Valáquia, inimigo dos otomanos e que não podia sair à luz do sol, tinha horror à cruz e água benta. Colocou mais alguns bons elementos e só. Em segundo lugar, quem já leu Stocker sabe como a narrativa é construída: o livro é contado como sem fossem cartas, memorando e pedaços de diários dos personagens, sem necessáriamente um narrador observador ou responsável por contar a história "de fora" ou "do presente". Acontece que dona Elisabeth fez a mesma coisa durante 70% de sua obra. Contou em forma de cartas (e até um diário), da mesma forma que Stocker, o que me pareceu uma baita falta de criativade. Por fim, vários pontos mal contados mesmo da história, que não são amarrados no final. Para alguns destes, a autora diz ao leitor que não teve acesso aos documentos ou que não havia registros. Outros, ela encerra simplesmente colocando um argumento mal elaborado guela abaixo de quem lê.

No fim, uma sensação lamentável de que poderia ter sido uma obra genial, mas faltou criatividade. Das 900 páginas, 700 são muito bem aproveitadas e divertidas, mas quando a sensação de que a coisa não vai acabar bem chega, a autora não consegue mandá-la embora e o leitor sabe o que vai acontecer, como vai acontecer e acaba o livro com cara de "é, uma pena, podia ser bem melhor".

Pra começo de conversa...

Não sei exatamente o motivo de ter criado um blog. Talvez tenha sido pra escrver um monte de asneiras, talvez pra tentar explicar algumas opiniões. Talvez porquê nunca tinha tido um desses antes.

Pode ser uma exposição interessante, vamos ver no que dá. A ideia inicial é falar superficialmente sobre alguns filmes, algumas músicas, algumas séries e outras formas de entretenimento que me agradam, sem querer fazer polêmicas bestas. Discussões políticas ou futebolísticas estão descartadas.


Quem sabe seja divertido, quem sabe eu canse e delete.