15 de fevereiro de 2010

Quando o autor não sabe encerrar um livro

O Historiador, de Elisabeth Kostova, publicado em 2005 (nos EUA) e chegou ao Brasil em 2009.

Quando um escritor se propõe a contar uma história cujo tema já foi insistentemente trabalhado, deve fazê-lo com muito cuidado e, principalmente, muita criatividade. Cuidado para não plagiar e para não fazer algo óbvio em vez de novo. Criatividade para que sua história se destaque e forneça aos leitores um novo universo sobre o tema.

No caso da senhorita Kostova, a coisa caminhou bem até certo ponto. Ela se propôs a escrever uma nova história sobre o Drácula, personagem já muitíssimo usado na literatura e no cinema, principalmente a partir da obra de Bram Stocker (genial, diga-se!).

Ao longo das quase 900 páginas, ela envolve o leitor em vários suspenses e mistérios muito bem contados, que insitam muito a curiosidade sobre onde o livro vai parar. Entretanto, quanto mais o livro caminha, mais forte fica a sensação de que as páginas não serão suficientes para dar um bom desfecho. Fica a impressão de quem o livro acabou por acabar, daquela maneira mesmo, assim, porque devia ser assim e ponto final. As últimas páginas são terrivelmente previsíveis, como se qualquer pessoa pudesse escrever aquilo sem trabalho algum.

Outros problemas, mais sérios ainda: durante a história foram feitas várias abordagens sobre a obra de Bram Stocker (os personagens se referem ao livro, sempre dizendo que aquilo não passa de mitologia e crendice). Sem problemas citar obras que também tratam do tema, mas cuidado pra não falar bobagens. No caso da senhorita Kostova, faltou esse cuidado.

Em primeiro lugar, porque ela não criou nada de novo em relação ao senhor Stocker, pegou o que ele já havia pensado e escrito sobre o Drácula e mal reformulou. O maior vampiro do mundo continuava sendo um conde da Valáquia, inimigo dos otomanos e que não podia sair à luz do sol, tinha horror à cruz e água benta. Colocou mais alguns bons elementos e só. Em segundo lugar, quem já leu Stocker sabe como a narrativa é construída: o livro é contado como sem fossem cartas, memorando e pedaços de diários dos personagens, sem necessáriamente um narrador observador ou responsável por contar a história "de fora" ou "do presente". Acontece que dona Elisabeth fez a mesma coisa durante 70% de sua obra. Contou em forma de cartas (e até um diário), da mesma forma que Stocker, o que me pareceu uma baita falta de criativade. Por fim, vários pontos mal contados mesmo da história, que não são amarrados no final. Para alguns destes, a autora diz ao leitor que não teve acesso aos documentos ou que não havia registros. Outros, ela encerra simplesmente colocando um argumento mal elaborado guela abaixo de quem lê.

No fim, uma sensação lamentável de que poderia ter sido uma obra genial, mas faltou criatividade. Das 900 páginas, 700 são muito bem aproveitadas e divertidas, mas quando a sensação de que a coisa não vai acabar bem chega, a autora não consegue mandá-la embora e o leitor sabe o que vai acontecer, como vai acontecer e acaba o livro com cara de "é, uma pena, podia ser bem melhor".

2 comentários:

  1. Erratas: 1)onde escrevi insitam, ler incitam;
    2) onde escrevi guela, ler goela.

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  2. Vou comentar de novo...se aparecerem dois, apagas o outro, tá?

    Excelente resenha! Adorei o modo como comparas o modo de ela escrever e ao mesmo tempo criticar o mesmo modo em outro escritor! Parabéns!

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